Tuesday, September 10, 2013

Bem no fundo

Posted by Unknown

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Paulo Leminski



Three sphinxes of Bikini - Salvador Dalí

Sunday, September 08, 2013

Estímulo. Verdadeiro.

Posted by Unknown

        Hoje foi dia de vestibular. Mesmo não tendo feito a prova — já tinha ido bem o bastante na primeira chance (mesmo não me orgulhando disso, já que não garante em nada minha vaga na faculdade) —, fui até o local onde sempre me mandam fazer as provas e desejei boa sorte aos meus amigos. Aproveitei e observei mais um pouco. Por que não transformar dias normais em pseudoexperiências pseudoantropológicas? Pseudo porque não me sinto nem um pouco cientista, ou pensador, mas não deixo de observar.
        Dia de prova é uma coisa interessantíssima! A necessidade de aprovação de alguns somada à certeza de derrota de outros transforma o ambiente em um campo de batalha pouco antes da guerra. Já o fim das quatro horas de avaliação me lembra primeiro dia de aula: mesmos assuntos — as questões —, desanimação e incerteza quanto aos resultados. Tudo isso, junto a camelôs vendendo "a água que tem o gabarito", cursinhos fazendo suas propagandas e ambulâncias se aprontando pro caso de algum estudante ter um piripaque, me dão a noção de que estou em um dos ambientes mais plurais e ao mesmo tempo mais homogêneos do meu ano. 
        Por que homogêneo? Vestibular me lembra sonho. É impossível não se emocionar e não admirar o grande número de pessoas que se apresentam ali como maratonistas correndo atrás de desejos, e não só resultados. Diversos eternos jovens, inclusive, que já "passaram da idade" de buscar alguma mudança brusca na vida, mas que ainda assim conseguem imaginar um caminho alternativo ao que estavam trilhando. Isso me anima, me levanta. Eu juro. Ainda que incertos do resultado, os sonhadores vestibulandos mostram a que vieram e demonstram transparentemente a sua necessidade de lutar por aquilo que acreditam. E isso me faz acreditar também. Em mim, e neles.
        Prova de vestibular é um exercício de motivação. Experimente. Eu adoro. E adoro de verdade, não pseudoadoro

Saturday, June 01, 2013

Traduzindo a saudade em palavras...

Posted by Unknown

       Ontem perdi um amigo. Não, não foi porque "cortei dedinho". Perdi, mesmo. Ele morreu. Não quero imaginar o porquê de ter me deixado, mas penso que um dos motivos possa ter sido o grande desgosto deste mundo cruel, que às vezes nos dá vontade, sim, de ir embora pra outro lugar. Como Pasárgada só existe aos olhos de Manuel Bandeira, procura-se algo muito maior e mais lindo: o céu.
       Que saudade. É difícil acreditar que alguém que você veria hoje, inclusive, não vai mais estar lá; alguém que te fazia rir, que te ensinou a ser melhor, muitas vezes, não vai mais te dar abraços, te chamar de amigo. É muito difícil. Mas, como dizem por aí, não existe forma melhor de se cicatrizar uma ferida do que deixando o próprio tempo fazer seu trabalho.
       Mas que saudade. A dor de enxergar que alguém com seus 16 anos tem um fim imposto aos seus planos de família, filhos, estudos, profissão só me faz pensar o quanto é preciso não só adiantar todas essas realizações, mas aproveitá-las da forma mais intensa possível, como se todo esse futuro fosse acabar em uma madrugada.
       Que saudade. Que vontade de ter dito adeus. Que vontade de vê-lo só mais uma vez, sorrindo, dizendo que "tá tudo bem" — não está tudo bem, mas ouvi-lo dizendo isso já me acalmaria. Enquanto isso, o vazio no peito fica, a dor continua se fazendo presente e as lembranças dos melhores minutos — ou seja, todos — vão sarando toda essa angústia, até que lembrar de alguém tão especial não me faça mais chorar, mas sorrir, assim como eu sei que ele iria desejar.
     
        Que saudade.

Tuesday, April 02, 2013

Posted by Unknown

        Me sinto cansado. Muito cansado. Nao acredito na facilidade de se encontrar justificativas palpáveis que descrevam tanto cansaço, nem mesmo a busca por um sonho que se mostra um pouco mais distante, às vezes, ou uma pessoa querida à sombra da morte.
        Talvez algo que justifique minha descrença seja o próprio ser humano. Ou eu mesmo. Por que temos estado tão infelizes? As atitudes, tomadas de decisões, a forma como a vida tem sido encarada levaram o ser humano a buscar abrigo em suas próprias imperfeições, em seus próprios anseios, desejos. E essa busca pelo mais profundo da alma cansa, e desestimula. Já não sei mais se qualquer problema que tire meu sono é reflexo de tais inquietudes ou se somam a uma questão muito mais metafísica. Talvez se resolvam apenas se eu conseguir deitar minha cabeça e fechar os olhos, sem precisar forçar um sono inexistente, tão natural que não exista medo de acordar e tudo ser diferente.